Não é em Vão - Novel - Capítulo 23
A estação das chuvas passou tranquilamente e os dias ensolarados consecutivos foram revigorantes.
O clima de outono na capital, no norte, estava chegando. Neste dia, Yu Xiaoman e Yu Tao estavam colocando uma camada extra de colcha na cama. Ao vê-lo olhando para os patos mandarim na colcha, Yu Tao não conseguiu evitar rir: “Ainda nem é noite, e nossa Jovem Senhora já está sonhando acordada sobre o amor.”
Yu Xiaoman corou ao ouvir o que disse: “Estou apenas admirando a técnica de bordado. Vou tentar mais tarde.”
Depois do almoço, ele encontrou um pedaço de tecido de brocado branco-lua, esticou-o no bastidor de bordado e começou a trabalhar de acordo com o padrão de bordado da colcha.
Como tinha algo em sua mente, Yu Xiaoman estava distraído em seu bordado, depois de quatro horas, ele havia bordado apenas um bico vermelho de um pássaro. Yu Tao, sentada com ele no corredor, tinha terminado de ler o novo livro e suspirou com seu lento progresso: “É só por causa do seu encontro no Festival Qixi? Por que você está tão nervosa?”
Até Yu Tao poderia adivinhar por que ele estava tão distraído. Yu Xiaoman perguntou incerto: “Você acha que ele irá?”
Ontem à noite, sem esperar que Lu Ji respondesse, ele rapidamente tomou a iniciativa e marcou um encontro sob a Ponte Suqiao, fora da cidade. Lu Ji permaneceu em silêncio por um longo tempo e só respondeu antes de ir para a cama: “Veremos então.”
Era a mesma resposta de antes de Shen Muxue se casar.
Que escolha ele faria dessa vez? Lu Ji já tinha uma resposta em seu coração?
Yu Xiaoman estava inseguro.
Ele nem sabia se Lu Ji sentia algo por ele.
“Por que ele não iria?” Os pensamentos de uma observadora eram mais simples do que os envolvidos. Yu Tao pegou um pedaço de frutas cristalizadas que sobrou de ontem e jogou-o na boca: “Flores e luar, uma bela companhia — que homem não sonharia com um momento desses? A menos que ele seja estúpido, ele iria.”
Ao ouvir isso, os olhos de Yu Xiaoman escureceram.
E se eu não for a pessoa em seu coração?
[…]
Naquele dia, Lu Ji não voltou para casa.
O servo trouxe uma mensagem dizendo que ele estava ocupado com assuntos militares e que ele teria que ficar por mais dois dias.
De fato, havia trabalho a ser feito, mas não era particularmente urgente. Ao anoitecer, Lu Ji fechou o último documento, fechou os olhos e levantou a mão para esfregar as têmporas, quando abriu os olhos novamente, viu a luz bruxuleante da vela e, por um momento, pareceu ver um rosto refletindo a luz fraca e aqueles olhos brilhantes sempre o observando.
Ele se perguntou quanto tempo esperaria hoje. Ele viria até o corredor perto do portão da frente, como fez há poucos dias, e sorriria ao vê-lo saindo da carruagem? Ele correria todo o caminho para pegar a cadeira de rodas das mãos de Duan Heng e empurrá-la enquanto dizia orgulhosamente: “A comida já está quente na panela; você pode comer assim que entrar em casa.”
Entretanto, Lu Ji pensou: Já que eu já enviei uma mensagem de volta, ele deveria saber da minha intenção e não esperar mais.
Ele pegou o castiçal e foi até a espreguiçadeira perto da janela, onde ocasionalmente passava a noite. Já era tarde da noite e fria. Ele se apoiou, deitou-se e puxou a colcha sobre si, mas ainda sentia um pouco de frio.
Quando aquela pessoa estava deitada ao seu lado, mesmo mantendo a decência e não se aproximando, parecia que havia um aquecedor por perto, e as noites frias não eram difíceis de suportar.
Talvez ele estivesse acostumado ao som daquela respiração superficial ao seu lado quando estava deitado de costas. Lu Ji se virou para evitar esses pensamentos injustificados. Assim que se moveu, sentiu seu braço sendo puxado. Ele virou a cabeça e viu que suas mangas largas estavam presas no apoio de braço.
Ele pensou… era aquela pessoa segurando sua manga novamente, implorando suavemente para que ele fosse com ele até a Ponte Suqiao para acender lanternas de rio.
Os cílios que cobriam seus olhos tremeram, seus lábios finos se separaram ligeiramente e um suspiro desapareceu na noite silenciosa.
[…]
A vida realmente retribui o carma. Ontem, ele contou uma mentira para evitá-la, e hoje um assunto urgente caiu do céu, mantendo-o tão ocupado que nem teve tempo para comer.
Primeiro, o Palácio emitiu um decreto convocando Lu Ji imediatamente, isso deixou Duan Heng nervoso, com medo de que Lu Ji não conseguisse manter sua posição atual.
Felizmente, o Imperador não estava na idade em que não conseguia distinguir o certo do errado. Ele apenas fez algumas perguntas a Lu Ji sobre a situação atual, e discutiu sobre a guerra de fronteira com ele.
Lu Ji estava no campo de batalha desde os dezesseis anos, tornou-se general aos dezoito, e suas habilidades de liderança eram inquestionáveis. Ele olhou para o mapa da situação de batalha e apontou as vantagens e fraquezas atuais, bem como ofensivas favoráveis.
O Imperador assentiu repetidamente e ordenou que alguém escrevesse o que Lu Ji havia dito e enviasse para a fronteira com despacho urgente a uma distância de oitocentos li, e então suspirou: “A corte está com falta de pessoas capazes. Se você ainda pudesse ir para o campo de batalha, eu não teria que me preocupar tanto.”
Lu Ji curvou-se e disse: “Pessoas talentosas surgem a cada geração. Este humilde oficial não é mais de grande utilidade. Ter minha posição e garantir meu sustento já é satisfatório.”
O Imperador pareceu muito satisfeito com o que ele havia dito hoje e, com um grande gesto, o recompensou com uma carruagem cheia de tesouros raros, inclusive acompanhou-o pessoalmente até o portão do palácio.
Antes de entrar na carruagem, o Imperador disse como se o lembrasse: “Agora, exceto pelos distúrbios ocasionais na fronteira, o império está em paz. O Clã Lu é leal e meritório por gerações, e suas façanhas serão lembradas através dos tempos. Seu pai também se aposentou da fronteira e retornou à corte. Esses dias confortáveis são algo com que muitas pessoas só podem sonhar.”
Os olhos de Lu Ji estavam calmos e serenos quando ele respondeu suavemente: “Você está certo, Vossa Majestade.”
[…]
Ao retornar ao campo de treinamento, Shen Hanyun estava esperando por algum tempo. Ao ver Lu Ji entrar, ele se levantou e o cumprimentou, “O Imperador tornou as coisas difíceis para você?”
Lu Ji balançou a cabeça: “Não.”
Após fechar a porta e dispensar as pessoas ao seu redor, o rosto de Shen Hanyun revelou uma pitada de ressentimento enquanto ele bufava levemente, “Ele realmente joga bem suas cartas. Quando ele precisa de você, ele o envia para o campo de batalha, empurrando-o para as mandíbulas da morte. Mas quando você ganha muito poder e lealdade das tropas, ele faz vista grossa para aqueles que conspiram contra você, não oferecendo ajuda.”
Pegando uma caixa de ginseng de mil anos das recompensas que tinham acabado de serem trazidas, Shen Hanyun zombou: “Ele acha que pode te calar com essas coisas? Heh, ele não tem noção.”
Tais palavras rebeldes só poderiam ser ditas aqui. Lu Ji ainda aconselhou, “As paredes têm ouvidos.”
“Pare de fingir. Eu sei que você não está com medo”, disse Shen Hanyun.
Lu Ji olhou para a caixa cheia de ervas medicinais preciosas, e seus olhos ficaram frios: “Tendo enfrentado a morte uma vez, não há nada a temer.”
Ao ouvir isso, Shen Hanyun sentiu-se gelado e preocupado. Ele tirou do bolso as últimas notícias: “Não vamos falar sobre isso agora. Se você não tem confiança em si mesmo, pelo menos tenha um pouco em mim. Estamos planejando há muito tempo; e ainda não sabemos quem prevalecerá.”
[…]
Era quase a hora do shen*, os soldados de guarda estavam a cerca de cinco passos da varanda, mas não conseguiam ouvir nenhum som vindo de dentro da sala.
(n/t: hora do shen: entre 15hrs às 17hrs pm)
Depois de falar por mais de quatro horas, a boca de Shen Hanyun estava seca. Ele se levantou com a intenção de se deitar na espreguiçadeira por um tempo, mas notou que a colcha não estava dobrada, ele ficou atordoado, então se virou para perguntar: “Você não foi para casa ontem?”
Lu Ji parecia cansado e apenas respondeu com “hmm” ao ouvir isso.
“O que aconteceu?” Shen Hanyun ficou intrigado. “Vocês dois… brigaram?”
“Não.”
“Então por que você não foi para casa dormir? Deixando-o sozinho em casa, você não está preocupado com os criados fofocando?”
Lu Ji levantou os olhos e olhou para ele.
Ao mencionar Yu Xiaoman, pareceu criar uma súbita ruptura entre os amigos antes harmoniosos e, por um momento, os dois ficaram em silêncio.
Depois de um longo tempo, Shen Hanyun disse desamparadamente: “Eu só quero que ele seja feliz… Ele não deveria estar aqui.”
“Então onde ele deveria estar?” Lu Ji perguntou.
Shen Hanyun quase deixou escapar uma resposta, mas mudou de ideia no último momento: “O mundo é vasto. Ele pode ir aonde quiser. Como ele poderia ser feliz preso nesta casa intrigante?”
Ao ouvir a palavra “feliz”, os pensamentos de Lu Ji de repente se voltaram para a primavera quente de alguns meses atrás. A grama estava crescendo e os pássaros voam, o céu estava limpo, um beco profundo, uma pipa em forma de peixe e um jovem o empurrando enquanto corria. Quando ele virou a cabeça, a brisa quente passou em seu lindo rosto, levantando seu cabelo preto sedoso. Pensando nisso agora, parecia tão vívido, como se tivesse acontecido ontem.
Antes que Lu Ji pudesse encontrar uma resposta, Shen Hanyun não conseguiu esperar mais e perguntou: “Então, você vai voltar hoje?”
Já tendo se decidido, Lu Ji disse: “Não.”
Assim que terminou de falar, de repente um trovão abafado ecoou no céu. Olhando pela janela aberta, o céu ensolarado do meio-dia havia se tornado escuro e tempestuoso, como se um lago de tinta tivesse sido derramado, e nuvens escuras pairavam sobre a cidade.
A água acumulada nas nuvens incitava a noite a chegar cedo, uma tempestade era iminente.
Ao mesmo tempo, na ponte Suqiao, fora da cidade, Yu Xiaoman olhou para o céu baixo e sombrio. Ao contrário dos transeuntes ao seu redor que corriam em busca de abrigo da chuva, ele estendeu a mão e a abriu, esperando que uma gota de chuva caísse em sua palma.
Hoje, Yu Tao o havia mandado sair mais cedo, pedindo para ele esperar no portão do campo de treinamento para que ele pudesse acompanhar Lu Ji até a Ponte Suqiao depois do trabalho. Eles até poderiam pegar a primeira onda de lanternas de rio.
No momento, sem falar na primeira onda, temo que nem conseguiria liberá-la.
[…]
Yu Xiaoman olhou para a margem do rio, onde um velho que vendia lanternas de rio estava ocupado cobrindo seus produtos com um pano. Alguns casais, não querendo perder sua chance anual, estavam implorando ao velho para que ele vendesse mais algumas lanternas. O velho explicou pacientemente: “Estas lanternas são feitas de papel, com velas dentro. Está prestes a chover. Você acha que isso ainda pode ser liberado?”
Claro que elas não poderiam ser acesas, sem falar que a chama da vela seria apagada, e a lanterna de papel não resistiria a o vento e à chuva.
Quando os casais ouviram isso, eles sabiam que não tinham esperanças e se dispersaram com os rostos desapontados. Yu Xiaoman, por outro lado, estava sozinho e sem companhia, ainda parado na margem do rio, olhando fixamente para as lanternas que já flutuavam rio abaixo.
O velho que vendia as lanternas do rio vestiu sua capa de chuva de palha e se virou, vendo que ainda havia alguém parado ali, ele perguntou: “De qual família é essa senhorita? Por que você não vai para casa?”
Sendo chamado de senhorita, deixou Yu Xiaoman atordoado por um momento. Quando ele voltou a si, olhou para baixo e pensou que suas roupas provavelmente estariam arruinadas.
Antes de sair, Yu Tao o segurou na frente do espelho e cuidadosamente o arrumou. No início, ele não estava disposto a se vestir bem, dizendo que era bom se vestir como de costume. Yu Tao insistiu e o convenceu dizendo: “uma mulher se veste bem para seu amante”, e acrescentou: “Se você se vestir bem, o Jovem Mestre ficará feliz em vê-la.”
Embora Yu Xiaoman não fosse uma mulher, ele mudou de ideia e pensou que “se vestir para o amante” não era irracional. Então ele vestiu roupas novas e deixou Yu Tao estilizar seu cabelo e usou seu melhor grampo de cabelo de jade. Sua aparência se tornou ainda mais delicada e refinada, suas feições como uma pintura.
“Sim, estou esperando por alguém”, pensando que não tinha nada a esconder, Yu Xiaoman respondeu honestamente: “Ele está ocupado com trabalho, então pode vir mais tarde.”
O velho olhou para ele de cima a baixo: “Então você é uma mulher casada. Meus olhos velhos devem estar falhando. Você parece tão jovem, pensei que fosse uma garota solteira saindo escondida para encontrar seu amante.”
Yu Xiaoman curvou os lábios e sorriu: “Você tem razão, estou esperando meu amante.”
O velho pegou uma corda e amarrou as lanternas de rio que estavam cobertas por um pano. Ele disse a Yu Xiaoman: “Vai chover em breve. É melhor ir para casa. Talvez seu marido vá direto para casa depois do trabalho.”
Yu Xiaoman balançou a cabeça: “Ele não foi para casa.” Após uma pausa momentânea, ele acrescentou: “Marquei um encontro com ele, então tenho que esperar aqui.”
O velho riu ao ouvir isso: “Diz-se que o Vaqueiro e a Tecelã só se encontram uma vez por ano. Mas parece que os amantes de hoje, que podem se encontrar todos os dias, estão ainda mais dedicados a este Festival Qixi?”
Uma gota de chuva fria caiu em sua palma e se infiltrou nas linhas de sua mão. Yu Xiaoman balançou a cabeça novamente. “Não nos vemos todos os dias.”
Além disso, quem sabe o que o próximo ano trará?
[…]
A primeira chuva depois do início do outono finalmente caiu.
O velho que vendia lanternas de rio deu a Yu Xiaoman duas lanternas de lótus como presente antes de partir. Ele abraçou as lanternas e agachou-se sob o beiral mais próximo da ponte.
A chuva forte caiu repentinamente, deixando a rua deserta. As casas ao longo da estrada estavam iluminadas. Através da cortina de chuva, silhuetas sombrias tremeluziam. O cheiro de comida parecia flutuar das janelas semi abertas. Yu Xiaoman calculou a hora — eram por volta do quinto quarto da hora de you. Se Lu Ji realmente foi para casa depois do trabalho, ele deveria estar jantando agora.
(n/t: hora de you entre 17hrs e 19hrs pm. Um quarto de hora seria 15 minutos)
Ele sabia que a melhor coisa a fazer seria voltar rapidamente à Mansão Lu, ou ir ao campo de treinamento. Lu Ji só estaria em um desses dois lugares. Se ele fosse, ele sem dúvida o encontraria.
Mas ele não queria ir embora. Eles tinham combinado de se encontrar aqui; então como ele poderia ir embora tão cedo?
Embora Lu Ji não tenha concordado explicitamente, Yu Xiaoman teimosamente aderiu ao compromisso deles. Assim como cumpriria sua promessa de protegê-lo, mesmo que Lu Ji não soubesse quem ele era.
Não importa se era uma tempestade ou o rugido do mar, ele nunca quebraria sua promessa.
[…]
Ele esperou mais um pouco.
Os beirados esparsos não conseguiam protegê-lo completamente. As gotas de chuva oblíquas caíram sobre Yu Xiaoman, encharcando suas roupas e seu rosto, até mesmo estragando o cabelo que ele havia penteado cuidadosamente antes de sair.
Yu Xiaoman abriu os braços para proteger as lanternas de papel, preferindo se molhar a deixar as lanternas ficarem encharcadas.
O motivo do convite era soltar as lanternas de rio juntos. Sem essas lanternas, não haveria sentido em esperar aqui.
Yu Xiaoman abaixou a cabeça e usou a luz de uma casa próxima para examinar as lanternas de papel em seus braços.
Mesmo comparada à pipa que ele havia feito, essa lanterna era bem simples — um lótus de papel com uma base de papel, nem mesmo uma única vara de bambu para mantê-la unida. Ele se perguntou o quão longe ela poderia flutuar rio abaixo.
Há um grande espaço em branco na lanterna, era conveniente para escrever alguma coisa.
Quando não estava chovendo, Yu Xiaoman viu várias garotas segurando pincéis e sentadas em um canto, abaixando a cabeça e escrevendo nas pétalas. Por suas posturas tímidas e secretas, elas provavelmente esperavam boa sorte no amor ou usavam essa oportunidade para expressar seus sentimentos a alguém especial. Se o ancião da lua visse suas mensagens, ele poderia amarrar um fio vermelho do destino, unindo-as.
Então, o que devo escrever?
Yu Xiaoman não pôde deixar de começar a pensar, considerando até mesmo em qual pétala escrever. Seus dedos traçaram para frente e para trás sobre as pétalas, preocupado que seus personagens mal escritos não preencheriam o precioso espaço em branco adequadamente.
Estando tão imerso, ele não percebeu os sons ao seu redor.
Só quando o som de rodas parando na chuva e um par de botas pretas apareceram em sua visão é que Yu Xiaoman piscou e levantou a cabeça lentamente.
[…]
Do outro lado de um curso de água, trocando olhares em silêncio¹.
Lu Ji chegou na chuva, parecendo ainda mais desgrenhado do que Yu Xiaoman. Seu cabelo caindo sobre os ombros estava encharcado pela chuva, e seu rosto bonito também estava salpicado de gotas de chuva. Assim que ele abriu a boca, a água salgada escorregou para dentro, quase o sufocando.
Então Yu Xiaoman aproveitou o momento e perguntou: “Onde está o guarda-chuva?”
Agora mesmo, quando estava entediado, ele havia ensaiado muitas falas, mas nenhuma parecia adequada agora. Quando ele deixou escapar essa pergunta, ele percebeu que era desnecessário. A razão pela qual Lu Ji não trouxe um guarda-chuva era porque no campo de treinamento não tinha nenhum. Soldados treinavam do lado de fora, independentemente do clima, empunhando armas sem guarda-chuva.
Yu Xiaoman baixou os olhos e permaneceu em silêncio.
Ele não sabia dizer se sentia mais alegria ou decepção. Ele ficou esperando aqui por seis ou oito horas, e até mesmo o coração mais caloroso ficaria frio. Mas Lu Ji estava aqui, tão ansioso que nem tinha ido para casa pegar um guarda-chuva. Ele ainda estava ofegante, seu peito arfando, perdendo completamente sua calma habitual.
“Eu esqueci”, depois de recuperar o fôlego, Lu Ji respondeu, “Mas eu trouxe outra coisa.”
Assim que Yu Xiaoman levantou a cabeça, Lu Ji desdobrou a capa que estava cuidadosamente dobrada em seu colo. Houve um momento de escuridão enquanto ele o cobria, e quando ele voltou a si, a capa grossa o havia envolvido da cabeça aos pés, incluindo sua cabeça.
Yu Xiaoman estava agachado, um pouco mais baixo que Lu Ji que estava sentado em uma cadeira de rodas. Nesse momento, ele estava envolto em uma capa azul marinho e se transformou em uma bola redonda, quase se misturando à noite.
A capa carregava uma fragrância agradável, um cheiro familiar de Lu Ji, fazendo Yu Xiaoman se sentir como se estivesse sendo segurado em seus braços.
Seu coração disparou — era um sonho que se tornou realidade. Ele esperou tanto por esse momento.
Pelo menos naquele momento, Lu Ji estava ali somente por ele. Ele tinha vindo sozinho por ele.
Aquelas mãos que seguravam armas para proteger o país agora o protegiam.
Talvez tenha sido uma intervenção divina, mas pouco depois da chegada de Lu Ji, a forte chuva começou a diminuir.
[…]
Lu Ji estava preocupado que a pessoa que estava agachada pudesse pegar um resfriado, ele estendeu a mão e disse: “Levante-se.”
Yu Xiaoman abaixou a cabeça e pegou as duas lanternas de rio da lapela da capa.
“Já que você está aqui…” Ele finalmente expressou seu convite que vinha preparando há muito tempo: “Vamos acender as lanternas de rio juntos, ok?”
Se as luzes estivessem acesas neste momento, era possível ver que seu rosto de jade estava tingido de vermelho. Lu Ji permaneceu calmo como sempre, embora seus olhos encharcados de chuva escondessem muitos pensamentos.
A chuva parou de repente, o som da chuva foi substituído pelo bater estrondoso de seus corações. Yu Xiaoman olhou para cima, esperando pela resposta de Lu Ji, seus olhos brilhando de esperança, sem mostrar nenhum sinal de cansaço de sua longa espera.
Após um longo silêncio, Lu Ji não retirou sua mão estendida.
Ele respondeu “Ok” suavemente e esperou em silêncio que Yu Xiaoman colocasse sua mão na palma da mão antes de fechá-la, segurando-a com força.
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Nota de tradução:
1 “盈盈一水间,脉脉不得语。” Do Anônimo “Altair” da Dinastia Han.